[OVERLOAD — 2024]

spray e tinta acrílica sobre tela, 200 x 150 cm.

Overload procura propor uma reflexão imagética conceitual sobre os impactos da hiperconectividade na subjetividade contemporânea. Através da figura da menina-ciborgue em colapso, a artista evoca discussões que orbitam entre os campos da arte, tecnologia e psicologia social, ancorando-se em referências como o Manifesto Ciborgue de Donna Haraway e a lógica simbólica de jogos como Undertale, de Toby Fox.

A obra em si nasce da necessidade de representar visualmente um estado emocional e mental cada vez mais comum na sociedade contemporânea: a sobrecarga. Por meio da figura de uma menina ciborgue em falha sistêmica, a obra explora o esgotamento humano diante da avalanche de estímulos gerada pela hiperconectividade digital.

A escolha da figura do ciborgue não é acidental. Inspirada pelo Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway (1985), a artista trabalha com a ideia de que já não há fronteiras rígidas entre o humano e a máquina. A tecnologia, incorporada em nossos corpos, rotinas e relações, evidencia que somos todos, em certa medida, entidades híbridas já na atualidade. O ciborgue torna-se, assim, uma metáfora potente para discutir as transformações ontológicas do sujeito contemporâneo.

Além da referência teórica de Haraway, a obra dialoga com o universo simbólico dos games, em especial com o jogo Undertale. A personagem Flowey, logo no início do jogo, pronuncia a frase: "In this world, it's kill or be killed." Essa lógica binária e agressiva é transposta aqui como crítica à cultura da competitividade e à exaustão mental promovida pelas dinâmicas sociais e digitais da atualidade.

Overload também estabelece um elo com os estudos sobre burnout, termo originalmente vinculado ao ambiente de trabalho, mas que hoje abrange esferas mais amplas da existência. A obra aponta para um tipo de esgotamento que transcende o profissional, atingindo o afetivo, o cognitivo e o emocional. O sistema da menina está em pane — e as vezes talvez o nosso também esteja.

Portanto, Overload não se limita a uma crítica visual: é uma denúncia e um convite à reflexão. A obra se insere no campo da arte como resistência, propondo uma pausa simbólica para que repensemos nossas formas de conexão, produtividade e existência.