Heart-Puncher é uma obra de Luna Buschinelli, idealizada entre os anos de 2024 - 2025, e ambientada em um universo cyberpunk distópico. No centro da cena, uma jovem se encontra em um banheiro público deteriorado — espaço à primeira vista impessoal e insalubre que, em um momento suspenso no tempo, se revela como um santuário íntimo e paradoxalmente acolhedor. As paredes, cobertas por camadas de grafites, mensagens rasuradas e pensamentos dispersos, funcionam como fragmentos de presenças anônimas, vestígios de encontros efêmeros que ecoam a própria narrativa da protagonista.

É nesse ambiente marginal, onde a precariedade urbana se mistura com uma espécie de lirismo sujo, que a artista cria um retrato pungente da alienação contemporânea e da busca intrínseca pela reconexão consigo mesmo, com os outros, ou com o ambiente, algo que acaba ocorrendo muito na atualidade. Um cabo de carregamento se estende do abdômen da jovem, conectando seu corpo a um dispositivo — símblizando uma necessidade não apenas mecânica, mas também psíquica: recarregar-se emocionalmente meio à exaustão sensorial da hiperconectividade que nos consome.

Inspirada pela linguagem visual e narrativa de videogames independentes como Undertale, Life is Strange e Milk inside a bag of milk, Luna Buschinelli compõe a cena com uma sensibilidade que transita entre o indie, o lírico e o existencial. A personagem não é apenas protagonista: é também jogadora, avatar, espectadora de si — atravessando e quebrando a quarta parede, como quem habita simultaneamente o corpo e a interface.

Na animação, a artista invoca a faixa School Rooftop [Slowed Down Version] de Hisohkah, que opera com um tom similar ao hipnótico Tom de Shepard — um fenômeno auditivo que cria a ilusão de uma nota que sobe ou desce infinitamente. O efeito distorce nossa percepção de tempo, criando uma atmosfera suspensa, reforçando toda a sensação de que a personagem — e nós com ela — está presa entre estados, entre o mundo físico e o mental, entre o glitch e a memória.

A obra se apresenta como um recorte lírico de uma geração esgotada, expõndo a delicadeza da presença em uma era saturada de estímulos.