[Contos - Avenida Presidente Vargas, Rio de Janeiro, 2017]

O mural intitulado "Contos" datado de 2017, representa a materialização pictórica de quatro fachadas de um edifício escolar localizado no epicentro da cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente entre a Igreja da Candelária e a estação ferroviária da Central do Brasil. No total abarcando uma área de 2.500 metros quadrados, o emprego do grafite sobre os muros da escola transmuta-se em um símbolo de caráter quase mágico, representando uma figura materna desprovida de alfabetização que, com convicção e imaginação, relata belíssimas narrativas a seus filhos, insinuando assim a capacidade de leitura. Nesse contexto, subsiste um cenário lamentável da realidade brasileira no qual persiste uma considerável parcela de jovens e adultos desprovidos da habilidade da leitura e escrita.

O grande pavilhão que levou a pintura teve sua fundação efetuada em 1913, originariamente operando como um anexo voltado exclusivamente ao para meninas, e complementando a escola preexistente estabelecida em 1877, reconhecida igualmente como um dos estabelecimentos fundados pelo monarca Dom Pedro II.

De acordo com as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2018, contabilizaram-se aproximadamente 11,3 milhões de indivíduos maiores de 15 anos vivendo em condição de analfabetismo. Se tal contingente populacional fosse reunido em um mesmo espaço urbano, sua densidade rivalizaria apenas com a da cidade de São Paulo – cuja população estimada é de 12,2 milhões de habitantes.

Devido à magnitude do projeto, a obra "Contos" alçou-se ao status de maior mural confeccionado por uma mulher até o ano de 2017, conforme registrado pelo Guinness Book, solidificando seu valor e reconhecimento tanto perante a crítica quanto o público.

O mural estimula um enfoque lúdico, promovendo a conscientização e empoderamento, bem como abraçando a representatividade das etnias negra e indígena, coletividades que compreendem aproximadamente 54% da demografia nacional brasileira.

Fotos por Humberto Ohana